"Agora sim tá com cara de Bolívia. Villazón e Tupiza tinham aparências bolivianas, mas ainda me lembrava muito a Argentina. Atravessei um deserto quase infértil com pequenos pueblos arrasados pelo sol de 40°C e a madrugada gelada de 10°C para chegar a Uyuni, uma pequena cidade que já não tem quase nada que lembra a cultura argentina.
Quanto mais sigo para o norte, mais difícil se torna a viagem, mais difícil de respirar. Por curvas que beiravam desfiladeiros, o ônibus subia as montanhas numa velocidade média de 35 km/h, mexendo de um lado para o outro. Ao contrário dos ônibus argentinos, os bolivianos preferem interromper a viagem para um descanso. Foi assim que conheci Atocha, um pueblo entre montanhas com casinhas de barro e tijolo que me lembraram as favelas do Brasil, só que no meio do deserto."
As paisagens de Uyuni são incríveis, mas a cidade não tem atrativos. E não posso dizer que os cidadãos de Uyuni são hospitaleiros e simpáticos, a não ser pela senhora que me serviu um delicioso jantar por 5 bolivianos. A senhora gorda do hostel, com seu chapéu e dente de ouro, tentava me convencer de que ali era o melhor lugar para hospedar, apesar de ser mais caro. "Por que aqui é mais caro?", perguntei. "Porque ficamos fechados muito tempo e agora temos contas para pagar." Cansado de buscar um bom lugar, resolvi ficar por lá mesmo por 40 bolivianos, num quartinho com uma cama, com direito a um banho de 5 minutos por dia e sem internet. Aliás, a cidade quase não tem água e internet. Somente por telefone fiquei sabendo da vitória de 6 a 1 do meu Cruzeiro sobre o galinho, escapando da 2ª divisão.
Quanto mais me aproximo dos povos que estão um pouco mais afastados das novidades da globalização percebo uma presença muito forte da cultura andina, inclusive os efeitos da colonização espanhola. As músicas das missas sempre falam em liberdade, justiça e paz aos pueblos.
Curiosités:
- O Salar do Uyuni é uma coisa impressionante! São 12.000 km² de deserto de sal, aonde trabalham apenas 2 cooperativas e pouquíssimas pessoas. O pouco interesse comercial no maior deserto de sal do mundo é devido ao pequeno valor do sal no mercado.
- A isla del pescado tem esse nome devido à forma de um peixe, visto de cima.
- No "cemitério de trens" estão os primeiros trens usados pela Bolívia. Por ali ainda há uma linha férrea por onde passa 2 ou 3 vezes por semana um trem que leva minério até o Atlântico.
- A Bolívia possui duas capitais: Sucre e La Paz.
- O dialeto quechua (um dos mais falados na Bolívia) se escreve de forma distinta do que se fala e com apenas 3 vogais: A, I e U.
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