domingo, 1 de abril de 2012

Destino XXIII: Caballo Cansado


Fim dos dias na Bolívia. Tomei o barco de volta pra Copacabana, reencontrei as argentinas que foram comigo para a Ilha do Sol e decidi seguir com elas para um lugar chamado Caballo Cansado, que fica em Juni no Peru. Passamos mais uma noite em Copacabana e no outro dia bem cedo fomos atravessar mais uma fronteira.
Resolvi me juntar a elas nessa parte da viagem porque elas disseram que estavam indo a um lugar aonde havia uma Puerta para outra dimensão, que alguns também chamavam de Puerta del Diablo. Segundo elas, os incas ou aqueles que viveram por ali há muitos anos atrás acreditavam que através dessa porta as pessoas que estivessem preparadas passariam para a outra dimensão. Por ela não só entravam pessoas, como também saíam, até mesmo seres que íam mergulhar no lago Titicaca. Eu, felizmente ou infelizmente, não passei pela porta e permaneci aqui nesse mundo terráquio.
Dessa vez não havia hostel, nem pousada. O lugar aonde ficamos foi ali ao léu, em frente à porta do diabo, numa barraca apertada, suportando chuva e vento. Não tínhamos muita comida. Apenas água e mate, um pouco de leite condensado, uns biscoitinhos e umas salteñas. Ao redor não havia quase nada. Por perto vivia um povoado com algumas casinhas que eu podia jurar que estavam vazias porque eu via pouquíssimas pessoas passar por ali. Quando chegamos um velhinho se apresentou como o "fiscal" do lugar e nos queria cobrar 5 soles por pessoa para acampar ali. As argentinas não queriam pagar porque segundo a informação que receberam não havia cobrança para ficar ali. Mas de tanto insistir elas deram os poucos soles que tinham e o velhinho se foi. Ele estava acompanhado de uma senhorinha, toda enrugada, que usava um capacete amarelo e não falava castellano, somente aymara. A senhorinha conversava com a gente como se entendêssemos o que ela dizia, era muito engraçado.
Patrícia e Sarmen (cujo nome não é esse, mas isso era o mais próximo do que eu lembro) são mãe e filha e estavam seguindo viagem desde Buenos Aires até ali. Numa noite fria, escura e com muito vento, Sarmen me disse enquanto tomávamos um mate que ali poderia ser a última vez que estaria com sua mãe. Patrícia estava cansada da vida, das pessoas falsas e superficiais, e estava partindo em busca de um lugar aonde não existisse a mentira que tornava as pessoas tão mesquinhas. Uma busca realmente muito difícil. E Sarmen, após essa viagem, voltaria a Buenos Aires para cuidar do seu filho (que iria nascer) e continuar a viver sua vida como antes. Era uma noite triste. O meu nariz escorria porque eu estava com crise de sinusite e resfriado. O fogo da fogueira improvisada pro mate não queria ficar aceso.
No outro dia de manhã, arrumei minhas coisas e pus novamente a mochila nas costas pra ir pra beira da estrada pegar uma van apertada para Puno, a cidade aonde estavam as ilhas flutuantes.

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