domingo, 1 de maio de 2011

Antroposofia e o mundo das abelhas


Muito aprendi nas 5 semanas em que estive no sítio do Marcelo e da Giovanna em Camanducaia sobre a vida na roça e os hábitos das pessoas que convivem com a natureza, tendo nela, diretamente, a relação de subsistência e sobrevivência. Porém, existem coisas particulares das quais eu não aprenderia se estivesse em outro sítio, cujo trabalho principal também fosse a agricultura. Há alguns anos, o Marcelo e a Gio descobriram a antroposofia e ali eu pude perceber como ela estava presente em vários costumes e práticas de suas vidas, desde à alimentação à educação de seus filhos. No meu dia-a-dia com eles, em tudo que fazíamos, eu percebia a presença das palavras e ensinamentos dessa sabedoria espiritual. Naturalmente curioso, eu não perdia a chance de fazer perguntas e de absorver um pouco da literatura disponível no segundo andar da casa.
Para não parecer loucura e estranheza tudo isso que eu falo vou tentar resumir um pouco do que aprendi.
A antroposofia conceitualmente significa "sabedoria (sofia) do homem (antro)". Apesar de tratar de assuntos espirituais e entender Cristo como o Deus Filho, encarnado e enviado para salvar os homens, a antroposofia não é considerada uma religião e sim uma ciência espiritual. Isso porque ela busca a verdade entre a evolução humana e a espiritualidade, a idéia e a percepção, a ciência e a fé. Essa filosofia foi fundada por Rudolf Steiner, um austro-hungaró nascido em 1861, que escreveu uma obra com mais de 350 volumes, incluindo, além de livros, mais de 6000 palestras. Steiner definiu a antroposofia como "um caminho de conhecimento para guiar o espiritual do ser humano ao espiritual do universo." A antroposofia olha o homem como um ser incluso num processo de evolução, integrante de um sistema imensamente maior que nosso espaço físico terrestre e, portanto, o conduz a ampliar a sua consciência para tornar-se um ser "espiritualmente livre". Os estudos e palestras de Steiner influenciaram vários campos das relações humanas e fizeram surgir vertentes como a medicina antroposófica, a agricultura biodinâmica, a pedagogia Waldorf (educação infantil e juvenil), a farmácia antroposófica (Wala, Weleda, Sirimim), a euritmia ("movimento como verbo e som visíveis") e a pedagogia curativa e terapêutica social (destacando-se os centros denominados Vilas Camphill).
As abelhas, segundo a antroposofia, são seres solares evoluídos que vieram de Vênus para ajudar os homens em sua evolução. Quem viu Bee Movie sabe a importância das abelhas para a preservação da natureza e, conseqüentemente, da vida do homem. Eu, particularmente, me encantei pelas abelhas desde o dia em que o Marcelo me levou para conhecer o apiário que ficava há uma certa distância da casa. Precisei vestir aquela roupa branca de astronauta e aprender a usar o fumegador para acalmar as senhoras abelhas em suas casas. Em cada caixa viviam aproximadamente 30.000 abelhas. A roupa de proteção era necessária porque apesar de haver abelhas européias, que são bem calmas, havia também abelhas africanas, que são mais nervosinhas. O Marcelo disse que na Europa os apicultores utilizam apenas um veuzinho para proteger o rosto.
Posso me considerar um sortudo por ter visto uma rainha. Geralmente ela fica protegida pelas outras e mais embaixo, no meio das telas. Porém, uma vez quando abrimos a casa, lá estava ela, pomposa e magnífica. Apesar de seu tamanho maior (ow, ela é muuuito grande!) e seus privilégios reais de poder se alimentar de geléia real (produzida pelas abelhas filhotes) por toda a vida, quem manda ali são as operárias. São elas que decidem como trabalhar, se vai nascer zangão ou operária, a hora de migrar, a hora de depôr a rainha. Basta observá-las por alguns minutos para conheer um exemplo perfeito de convivência comunitária, distribuição de tarefas, igualdade, equilíbrio e perfeição.
No primeiro passeio que eu dei acompanhado pela Natu (a cadela policial bagunceira que rasgou meu tênis) fui pêgo de surpresa por algumas abelhas que estavam nervosas por algum motivo e voavam sobre a única trilha que me levava de volta à casa. Que desespero! Corri muito, o mais rápido que pude, e fui picado apenas em três lugares. Minha cabeça doeu um bom tempo. Dizem que dá sorte.

"O apiário inteiro está verdadeiramente perpassado de vida amorosa. As abelhas abdicam individualmente de muitas formas de amor, dando mostras de amor em toda colméia, de tal maneira que só começamos a entender a vida delas quando nos damos conta de que a abelha vive em uma espécie de ar totalmente impregnado de amor (...) E quando se começa a pensar profundamente nisto, passa-se a tomar posse de todo o segredo de um apiário. A vida deste amor nascente e crescente que estava espalhada nas flores, estará também presente no mel." (Steiner, Rudolf)

Livro que recomendo: Noções básicas de Antroposofia, Rudolf Lanz
Foto: Marcelo abrindo uma caixa de abelha.

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