domingo, 15 de maio de 2011

Paulinho, o trator humano


Quero muito escrever sobre o Paulinho, um empregado que trabalha três vezes por semana no sítio do Marcelo e da Giovanna. Baixinho, barrigudinho, careca e com uma força impressionante. Eu e o Marcelo o apelidamos de "trator humano" devido a sua força e seu entusiasmo. Ele diz que não pode diminuir esse ritmo para estar sempre forte e disposto e que o que faz forte é comer carne, todos os dias. O Marcelo diz: "Paulinho, preciso arrancar essas araucárias para passar uma cerca por ali." E ele responde: "E depois? Tá precisando roçar lá em cima." Dá pra entender? Arrancar araucárias, árvores de 15 metros de altura, não é nada irreal. Faz parte do trabalho, faz parte da vida de um homem do campo como ele.
Eu cheguei lá pra por as mãos à obra, ou seja, pra acompanhar o Paulinho e dar uma forcinha a ele. Forcinhazinha. Perto dele minhas pás de adubo pesadas e suorentas era um cisquinho de nada. To exagerando? Talvez. Paulinho não era o incrível Hulk, mas foi com certeza um dos caras mais fortes que já conheci. Quem o conheceu a de concordar comigo.
E será que dá pra imaginar como era a personalidade do trator humano? Uma piada. Não era necessário dizer uma palavra que a conversa seguia fluidamente por horas. Foi durante o preparo do composto, da colheita do milho e das pás de adubo que eu ouvi os "causos" da roça mais engraçados e as modas de viola mais bonitas.
Às vezes também vinha trabalhar o Zé, que, ao contrário do Paulinho, era grande e magro. Uma dupla perfeita de o gordo e o magro. Eram amigos de verdade. Paulinho é cunhado de Zé e se conhecem há bastante tempo. Zé é meio tímido mas tem uma risada que se reconhece à distância. Os dois juntos só sai besteira. Um dia combinamos de ir juntos a cavalo comprar um bode para o Paulinho. (Ele sempre arruma umas compras esquisitas assim.) Nunca cavalguei tanto. Foram mais ou menos 3 horas de ida e 3 de volta. A Gio deu o nome a isso de Paulisséia, a odisséia do Paulinho. Quando desci do cavalo não sentia minhas pernas e no outro dia minha coluna parecia torta. Mas foi um dos passeios mais engraçados e bonitos que fiz, com direito a uma cachacinha, uma cerveja, uma coca-cola e um chips ruim e barato.

Carregar coisas pesadas passou a ser um exercício diário e se nos primeiros dias eu me sentia fraco demais, nos outros eu sentia necessidade de fazer um esforço grande. Não é que eu tinha me fortalecido, só acredito que não sabemos a força e os limites que realmente existem em nós. Imaginamos que não podemos fazer isso e ali fica uma linha traçada: "proibido ultrapassar". E quando você ultrapassa, descobre do que o seu corpo é realmente capaz.

Foto: Zé, eu e Paulinho







2 comentários:

  1. Nossa! Que bom que alguém algum dia documentou essa pérola do mundo ou ficaria esquecida. Fiquei até emocionado com essa publicação. É isso mesmo.

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